quinta-feira, 13 de maio de 2021

DILIGÊNCIAS DO PASSADO (COLUNA E CONTOS)

 




DILIGÊNCIAS   DO     PASSADO 


 

                                                                CAMINHÃO BOIADEIRO 1950


------Vire à esquerda. (gritando mais alto) À esqueeeerdaaaa…..
------ Você parece que é surdo.

------Surdo eu não sou...Mas com está poeira, a buraqueira e a luz apagada….

Eu poderia dizer-lhe que para o preço de uma viagenzinha de cinco quilômetros eu pagara quatro vezes mais….Mas, fiz como se não ouvisse. A coisa já era muito confusa.

Mais buracos. Mais sacolejos. Afinal, aquilo não era estrada. Era uma espécie de “picada” no cerrado que, de dia, percorremos a pé.

O motorista (se é que apelidado disso, somente podia guiar aquele caminhão). Um outro ele já não sabia nada.

------Tá escuro...Nunca pensei que guiar de noite fosse tão ruim.

------Também não. Mas a lua vai demorar….O horário que combináramos foi esse.

Já agora víamos a fracas luzes do posto.

------Este caminhãozinho está firme ?

------Está. Eu troquei as molas traseiras ontem doutor. Pode confiar.

Mais silêncio. Melhor. Barulho de lataria batendo.

----- O senhor combinou bem com o guarda ?

-----Sim. Tudo certo.

-----Que Deus nos ajude. Disse em voz alta o dito motorista. Ele não era motorista, era um péssimo caminhãozeiro e só.

É interessante o comportamento dos humanos ! No começo da “viagem” ele estava nervoso. Agora, que a hora chegara, passar um posto da fronteira, sujeito a prisão em flagrante, o caminhãozeiro estava tímido, leve como se tudo já fosse coisa do passado. Mas tudo ainda estava por vir.

Ascendemos as luzes de sinalização e fomos indo devagar. De lá, da casinha, um guarda saiu mandando-nos seguir.

Parece que todos voltamos a respirar. Passamos por ali dois caminhões de gado.

E pensei comigo “...meu pai nunca quis isso para mim. Pensou-me em um escritório, em salas de juízes, terno, etc….”Mas o mundo era diferente. Tinha um filho, uma esposa para zelar, casa alugada, sem carro e já dois anos de formado.

Deste gado, quarenta fêmeas, elas iniciaram um plantel muito maior, e foi este árabe meio louco que iniciou, aqui no Brasil, os primeiros planteis do gado “girolando”.

Ele morreu e não fui em seu sepultamento.

Abração.

J. R. M. Garcia










CAMINHÃO BOIADEIRO 1950


------Vire à esquerda. (gritando mais alto) À esqueeeerdaaaa…..

------ Você parece que é surdo.

------Surdo eu não sou...Mas com está poeira, a buraqueira e a luz apagada….

Eu poderia dizer-lhe que para o preço de uma viagenzinha de cinco quilômetros eu pagara quatro vezes mais….Mas, fiz como se não ouvisse. A coisa já era muito confusa.

Mais buracos. Mais sacolejos. Afinal, aquilo não era estrada. Era uma espécie de “picada” no cerrado que, de dia, percorremos a pé.

O motorista (se é que apelidado disso, somente podia guiar aquele caminhão). Um outro ele já não sabia nada.

------Tá escuro...Nunca pensei que guiar de noite fosse tão ruim.

------Também não. Mas a lua vai demorar….O horário que combináramos foi esse.

Já agora víamos a fracas luzes do posto.

------Este caminhãozinho está firme ?

------Está. Eu troquei as molas traseiras ontem doutor. Pode confiar.

Mais silêncio. Melhor. Barulho de lataria batendo.

----- O senhor combinou bem com o guarda ?

-----Sim. Tudo certo.

-----Que Deus nos ajude. Disse em voz alta o dito motorista. Ele não era motorista, era um péssimo caminhãozeiro e só.

É interessante o comportamento dos humanos ! No começo da “viagem” ele estava nervoso. Agora, que a hora chegara, passar um posto da fronteira, sujeito a prisão em flagrante, o caminhãozeiro estava tímido, leve como se tudo já fosse coisa do passado. Mas tudo ainda estava por vir.

Ascendemos as luzes de sinalização e fomos indo devagar. De lá, da casinha, um guarda saiu mandando-nos seguir.

Parece que todos voltamos a respirar. Passamos por ali dois caminhões de gado.

E pensei comigo “...meu pai nunca quis isso para mim. Pensou-me em um escritório, em salas de juízes, terno, etc….”Mas o mundo era diferente. Tinha um filho, uma esposa para zelar, casa alugada, sem carro e já dois anos de formado.

Deste gado, quarenta fêmeas, elas iniciaram um plantel muito maior, e foi este árabe meio louco que iniciou, aqui no Brasil, os primeiros planteis do gado “girolando”.

Ele morreu e não fui em seu sepultamento.

Abração.

J. R. M. Garcia








CAMINHÃO BOIADEIRO 1950


------Vire à esquerda. (gritando mais alto) À esqueeeerdaaaa…..

------ Você parece que é surdo.

------Surdo eu não sou...Mas com está poeira, a buraqueira e a luz apagada….

Eu poderia dizer-lhe que para o preço de uma viagenzinha de cinco quilômetros eu pagara quatro vezes mais….Mas, fiz como se não ouvisse. A coisa já era muito confusa.

Mais buracos. Mais sacolejos. Afinal, aquilo não era estrada. Era uma espécie de “picada” no cerrado que, de dia, percorremos a pé.

O motorista (se é que apelidado disso, somente podia guiar aquele caminhão). Um outro ele já não sabia nada.

------Tá escuro...Nunca pensei que guiar de noite fosse tão ruim.

------Também não. Mas a lua vai demorar….O horário que combináramos foi esse.

Já agora víamos a fracas luzes do posto.

------Este caminhãozinho está firme ?

------Está. Eu troquei as molas traseiras ontem doutor. Pode confiar.

Mais silêncio. Melhor. Barulho de lataria batendo.

----- O senhor combinou bem com o guarda ?

-----Sim. Tudo certo.

-----Que Deus nos ajude. Disse em voz alta o dito motorista. Ele não era motorista, era um péssimo caminhãozeiro e só.

É interessante o comportamento dos humanos ! No começo da “viagem” ele estava nervoso. Agora, que a hora chegara, passar um posto da fronteira, sujeito a prisão em flagrante, o caminhãozeiro estava tímido, leve como se tudo já fosse coisa do passado. Mas tudo ainda estava por vir.

Ascendemos as luzes de sinalização e fomos indo devagar. De lá, da casinha, um guarda saiu mandando-nos seguir.

Parece que todos voltamos a respirar. Passamos por ali dois caminhões de gado.

E pensei comigo “...meu pai nunca quis isso para mim. Pensou-me em um escritório, em salas de juízes, terno, etc….”Mas o mundo era diferente. Tinha um filho, uma esposa para zelar, casa alugada, sem carro e já dois anos de formado.

Deste gado, quarenta fêmeas, elas iniciaram um plantel muito maior, e foi este árabe meio louco que iniciou, aqui no Brasil, os primeiros planteis do gado “girolando”.

Ele morreu e não fui em seu sepultamento.

Abração.

J. R. M. Garcia