DIAS DE ALEGRIA
Vocês sabem que eu “não morro de preguiça” .
Sabem porquê ? Por que morrer dá muito trabalho.
Aliás, eu tentei morte súbita. Em um supermercado de cabeça no piso e já totalmente entregue aos corvos da parca.
E, o que fizeram comigo ?
Entre correrias, com o trânsito confuso, levaram-me para um hospital, fizeram-me três pontes de safena e nove horas depois devolveram-me a vida.
Claro. Continuo aqui escandalosamente preguiçoso. Alforriado desta escravidão da corveia.
A Deus agradeço todos os dias à liberdade de ter dias tão solitários, vazios e sem propósito algum. Isso é bom demais.
Se bem que as vezes sou molestado. Hoje, por exemplo, não posso nadar. A piscina está sendo lavada e, por isso, fechada. É uma chateação. Mas aguento a contrariedade deste transtorno .
Estou pois convicto : nenhuma das dores que sofri no hospital são maiores do que a dor do trabalho.
Penso que a velhice combina com o preguiçoso em gênero, número e grau. Velhice + preguiça é como o limão na caipirinha. A soma dos dois traz o ânimo que enleva a vida em sonhos.
A liberdade é um atributo da renúncia mais a resignação.
Liberdade dos grilhões do sexo, como o disse Platão. Liberdade para ver e saber da inutilidade de seus atos. Liberdade para entender que o efeito de sua ação não mudará as circunstâncias que irão inevitavelmente vão acontecer. Dar-se o luxo de nada dizer das dores que sofre. Liberdade para sentir o quê antes dizia sentir. Liberdade para não desejar. Liberdade para ver, ouvir e pensar de forma plena e individual.
Liberdade para ter Liberdade.
Um exemplo deste instante.
Enquanto estava escrevendo agora, fiz um café de coador; coloquei a comida para esquentar; fumando com uma das mãos (sou um bom fumante) e com a outra lavando talheres; Trajo um calção velho ; ouvido televisão e conversando com você.
Quando é que tive liberdade de, fagueiro assim, ver-me tão lépido ?
Informo-lhes. Nunca.
E sabe porquê ?
Provecto, mas lúcido, busco nos sonhos de tenra infância leveza que não recordo, mas que nunca esquecerei.
Abração Amigos.
J. R. M. Garcia.