EU & AS BENGALAS
Não é propaganda nem para compra, nem para usos de bengalas. A ideia é essa mesma: "Como eu e as bengalas relacionamo-nos."
De uns tempos para cá, com a substituição de três artérias vitais aos batimentos cardíacos, fiquei acamado uns dias e, então, voltei a andar mancando. Não por causa do coração, mas porquê já antes eu sentia dores na coluna. Essas dores pioraram.
E daí comecei a peregrinação por médicos, enfermeiros, fisiculturistas, massagistas curandeiros, chá de babosa, pasta de casca de amendoim e vai por aí. Nesta peregrinação encontrei de tudo. Um dizia que deveria usar muletas , enquanto outros recomendavam duas bengalas, alguns cadeiras de rodas e poucos acrescentavam uma muleta com quatro pés nas pontas. Chegaram a oferecer uma bengala de calibre 22, chamada "mata rato". Perguntei: “Para que isso? É uma arma de fogo”. E a resposta: “Para matar flanelinha...”arguiu gargalhando o comerciante. Uma gama enorme de "conselheiros" não deu nem soluções a minha maqueira ou dores.
Comprei algumas bengalas e as experimentei. Nada. Tudo inútil. Corrigindo: de todo inútil não. Muito radical isso. Aprendi a cair em escadas; saídas e entradas de veículos; fugir de portas automáticas; deixar as bengalas caírem e fugir mancando pelo tráfego; dependurar no metrô com as mesmas no ombro; escorregar em pisos molhados; fugir de ônibus perseguindo pedestres; Certa feita prendi involuntariamente o chinelo de uma senhora na ponta da bengala com o piso do ônibus e ela levou um cruel “tombaço” Esse foi o pior acidente. Segundo ela, com mais experiência do que eu, gritou em tons altos que: “não deveriam permitir que aleijados utilizassem ônibus.”
Mas de uma forma geral adquiri cultura. Sou mais hábil hoje em andar de muletas do que antes. Isso é, também, cultura.
Pois é !
Fazem dois anos que não salto da Pedra da Gávea. Mas este ano, com bengala ou não, voltarei a saltar.
Uma ótima semana.
J. R. M. Garcia.